Vi
uma recomendação de leitura desse livro e a
descrição inicial me chamou muito atenção: Trata-se da história de Laila,
estudante de artes plásticas (pintura) que tem uma doença degenerativa na visão
(retinose pigmentar) e que após o diagnóstico da doença e o prognóstico da
cegueira inevitável, passa a se relacionar com Pierre, um funcionário público
sem grandes pretensões na vida, que é quem lhe ajuda (acolhe, na verdade) nessa
primeira fase da etapa da vida de Laila como uma pessoa cega.
Por
essa descrição, parece que seria uma história de amor e superação, em que a
protagonista aprenderia a viver de uma outra forma, com a ajuda de uma pessoa
legal, a qual iria fazer de tudo para a ajudar a encontrar um outro sentido
para a sua vida, para a sua arte. Mas a realidade é totalmente o contrário:
Laila é uma escrota
sugadora de energia positiva e o Pierre é um cara com baixa autoestima, que vai
permitir ser sugado por Laila.
É
o primeiro livro que eu leio que o homem é que tem problemas de aceitação e
vergonha do corpo, tanto que investe em um relacionamento com uma pessoa cega
pela certeza que ela não iria ver as suas mãos. Bizarro. Dá vontade de chamar o
cara e dizer: “Ei, mermão, te valoriza!”. A Laila faz o que quer com ele e ele
passa a dedicar o seu tempo a proporcionar sensações a Laila, que a façam ter
disposição para viver, já que ele acha que se ela não ficar com ele, ninguém
mais ficará.
Ele
vive essa vida de “novas sensações” até acontecer o óbvio: Ela achar outra
pessoa mais interessante para brincar e o Pierre ficar lá, na fossa, com todas
as lembranças dela na casa dele mais o cão guia, que também foi batizado de
Pierre por ela (olha só o nível da maldade).
Não
cheguei a uma conclusão se ela fazia isso por ser uma pessoa ruim, que só
estava “vendo” um meio de se aproveitar as fragilidades dele em seu benefício
ou se ela não estava sabendo lidar com a perda da visão, que veio junto a perda
da profissão. Ou as duas coisas.
O
livro dá uma ideia inicial do que é o processo de adaptação a cegueira, os
desafios e como são as crises de pânico dos cegos. A descrição é tão precisa
que chega a te fazer piscar algumas vezes, só para ter certeza de que está tudo
bem com a sua visão.
Há
uma terceira personagem, que é a funcionária do pet shop em que o Pierre compra
o cão guia para Laila. Ela funciona como narradora em algumas partes do texto,
ora contando os fatos que envolvem Pierre e Laila de fora, ora figurando como
aquela amiga (no caso, do Pierre) que te dá um sacolejo e diz pra você abrir o
olho.
Leitura
fácil, com um enredo diferente do que se imagina e um final surpreendente.